Fortaleza é a cidade dos velhos jogando xadrez na Praça dos Leões, dos que se sentam para ver o tempo passar na rua perto da igreja da Messejana, dos pescadores do Serviluz e dos líderes comunitários que ocupam as brechas da ausência do Estado. É a cidade dos jornalistas que se deslocam para registrar o presente, das donas de casa que lutam para garantir o pão de cada dia e dos artistas que esmiúçam a realidade social.

 

Para além disso, Fortaleza também é feita das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado. Ela está ali, na distância das longarinas da Ponte Velha até o salto do pescador, na haste do Relógio das Horas aos debates de uma padaria espiritual, nas vigas do Farol cantado por Ednardo e nos fios esticados sobre avenidas até as escadas em quase caracol que levam ao Plebeu Gabinete de Leitura. Fortaleza é o curso do riacho Pajeú à resistência de Bárbara de Alencar e aos escritos de Gilmar de Carvalho. 

 

Para Italo Calvino, “a cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata”. Em meio ao caminhar dos entrelaçamentos, existem os sujeitos que se propõem a registrar e construir narrativas audiovisuais sobre a cidade, apresentando recortes da multifacetada capital cearense. 

 

O especial multimídia “Atravessamentos Urbanos: olhares cinematográficos sobre Fortaleza” surge, então, com o desejo de se debruçar sobre essas produções com foco na Cidade e em seus acontecimentos. Para isso, dividimos o site em quatro principais seções: Formação, Políticas Públicas, Resistência e Memória, já que tratar sobre cinema é falar acerca dos percursos formativos dos moradores da cidade, das políticas públicas que possibilitam essa construção, da resistência que se realiza através da sétima arte e, também, do registro de memória da cidade criados pelas produções audiovisuais.

 

Além disso, o trabalho também conta com uma página no Instagram, para divulgar parte do seu conteúdo e possibilitar um diálogo mais direto com o público; com playlist de música no Spotify, compartilhando produções feitas por artistas locais, e com intervenções urbanas na cidade, através de lambes colados com fotografias e colagens realizadas pela equipe. 

 

Compreendemos que falar sobre cinema, memória e as potencialidades da sétima arte se mostra cada vez mais urgente, principalmente dentro de um cenário de descaso com a conservação da nossa história. Em 2013, o Memorial da América Latina foi atingido com um incêndio; em 2015, ocorreu o mesmo com o Museu da Língua Portuguesa. Em 2018, parte da estrutura interna do Museu Nacional do Brasil caiu com as chamas e, em 2021, mais uma vez foi registrado novo incêndio, agora na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. 

 

Como forma de resistir ao desmonte do passado, falamos sobre cinema. Vemos que as produções audiovisuais também se mostram como ferramentas de luta capazes de costurar fatos históricos, descobrir narrativas entre as brechas da linha do tempo e, acima de tudo, possibilitar a manutenção de uma memória viva para nossa cidade e Estado.