As produções "Pajéu", "Ponte Velha" e "Um Lord Abandonado" tratam sobre espaços de Fortaleza trazendo o debate sobre a manutenção de suas histórias
Por Beatriz Rabelo
Partindo da Avenida Aguanambi, conhecida por alagar em período de chuva há menos de dez anos atrás, e entrando na BR-116, é possível ver as ruas laterais repletas de lojas e de outros estabelecimentos comerciais de maior porte. De vez em quando um restaurante ou lanchonete se destaca neste caminho. Antes da base da aeronáutica, o prédio do Liceu do Ceará aparece do lado direito, enquanto na esquerda fica o Mercado da Aerolândia, conhecido por suas animadas festas de domingo à noite nos tempos pré-pandêmicos, mas que hoje tem suas luzes apagadas durante toda a semana.
Mais a frente, saindo da BR-116 em direção à Avenida Oliveira Paiva, que precisou destruir parte da fachada de muitas casas para ser alargada da maneira como atualmente se vê, há uma Fortaleza com igrejas, comércios e residências, costuradas discretamente entre o ontem e o hoje.
No posto vermelho e amarelo localizado na frente de uma casa azul de muro baixo, eram montados carros de som que ficavam ligados por toda a noite. No terreno baldio mais a frente da avenida, crianças inventaram histórias de fantasmas e correram na rua ainda de pedra todas as vezes que passaram pela área coberta de verde. Hoje, a área já não está mais abandonada. Uma loja foi erguida e a calçada já se vê asfaltada e bem iluminada.
Mas a cidade é eternamente assim: construída a partir das memórias do que foi e do que é. Da confusão gerada pela constante mudança dos sentidos das ruas, das histórias dos que viveram a Fortaleza que hoje chamamos de antiga, mas que um dia foi tão viva quanto a onda que se quebra neste momento na praia do Titanzinho.
De tudo que o tempo traz, é muito pouco aquilo que permanece. Se por um lado há esquecimentos que talvez sejam necessários - por que haveríamos de lembrar com orgulho da imagem de um grileiro, de um ditador, de um colonizador? - por outro, há histórias, edifícios, documentos e pesquisas que ajudam a compreender o espírito de um tempo, as trajetórias percorridas por sujeitos que habitaram a cidade, os sonhos para um futuro que já passou, os ideais de progresso e até mesmo os símbolos que foram essenciais para a construção de uma cidade, como o riacho Pajeú.
Compreendendo a importância de resgatar o passado de Fortaleza e as vidas que construíram essa malha urbana, produtores audiovisuais realizaram curtas e filmes carregados de olhares atentos, curiosos e delicados. Nesta aba, tem-se as produções Ponte Velha (2018), Um Lord Hotel (2009) e Pajeú (2020), que trazem para o presente um breve recorte de cada um desses símbolos da capital cearense.
Se a luta histórica contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento, essas produções se colocam na linha de frente da batalha.